Friday, May 24, 2013

Zoabi No Kahane Dos Outros É Refresco...

Meir Kahane em nada se parece com Haneen Zoabi.

Kahane é judeu e nasceu em 1932 no Brooklyn, Estados Unidos, em uma família judaica ortodoxa.

Seu pai, o rabino Yechezkel, era amigo próximo de Zeev Jabotinsky. Na adolescência, Meir frequentou o movimento juvenil Betar e um pouco mais tarde foi ativista no Bnei Akiva. Estudou em diversas yeshivot , onde recebeu ordenação rabínica e formou-se em Ciências Políticas e Direito por grandes universidades nos EUA.

Zoabi é muçulmana e nasceu em 1969 em Nazaré, Israel. em uma família muçulmana laica. É parente próxima de Abd el-Aziz el-Zoubi, o primeiro árabe a se tornar membro da Knesset.

Zoabi estudou filosofia e psicologia na Universidade de Haifa, e recebeu um Mestrado de artes e comunicação da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Zoabi é a primeira cidadã árabe de Israel a se formar em estudos de mídia e estabeleceu as primeiras aulas de comunicação em escolas árabes no país.

Mundos completamente desconexos levaram a escolhas políticas desiguais.

Kahane emigrou para Israel em 1971. Envolveu-se em diversas polêmicas, dando início a protestos que defendiam a expulsão dos árabes de Israel e dos territórios ocupados. No mesmo ano, fundou um novo partido, “Kach” (Tradução direta: “Assim”). Posicionado na extrema-direita israelense, o lema de sua coligação logo ficou conhecida no país – “Dê-me a força, que eu cuidarei deles” – “eles”, no caso, era uma alusão aos cidadãos árabes israelenses e aos palestinos. Após diversas derrotas consecutivas, o partido finalmente conseguiu uma vaga no Knesset de 1984.

Em 2001, Zoabi se filiou ao partido árabe Balad. Mais tarde, fundou a ONG chamada “Central de Mídia para árabes palestinos em Israel” (denominado “e’e’lam”). Em 2009, conseguiu uma vaga no Knesset tornando-se a primeira mulher muçulmana a representar um partido árabe em Israel.

Como membros eleitos dentro do parlamento, cada um pôde propor a elaboração de leis que cristalizariam as suas ideias para o futuro do país.

Kahane defendia que o Estado de Israel fosse regido pela leis da halachá.

Concedeu diversas entrevistas em que afirmou abertamente que judaísmo e democracia não poderiam caminhar lado a lado. Expondo o seu medo de que o crescimento demográfico árabe acabaria com o caráter judeu do Estado de Israel, propôs a deportação forçada dos árabes de todas as terras controladas pelo governo israelense. A ideia era compensar financeiramente com cerca de 40.000 dólares cada árabe que deixasse voluntariamente o país e, consequentemente, a expulsão de todos aqueles que se recusassem a deixar suas casas. Entre as propostas de leis polêmicas, posso citar as mais relevantes como a) “cidadania em Israel apenas para judeus” e b) “pena de prisão para árabes e judeus que casassem entre si ou que tivessem estabelecido uma relação sexual”. Felizmente, nenhuma destas leis chegou a ser votada por falta de quórum e apoio político.

Zoabi rejeita a ideia de Israel como um Estado judeu, que ela descreve como “inerentemente racista”. Na cerimônia em que seria empossada em sua função legislativa deixou o plenário do Knesset antes de cantar o o”Hatikva” (hino nacional de Israel) por afirmar que ele “não a representa”. Toda a sua luta política pode ser resumida no desejo de tornar Israel um Estado binacional, concedendo direitos civis plenos a todos os refugiados palestinos. Não são raras as vezes que podemos assisti- -la em programas de televisão e rádio condenando as políticas do governo israelense.

Meir Kahane até que se parece com Haneen Zoabi. Os dois foram expostos a execração política e tiveram a sua candidatura ao parlamento questionada na mais alta corte judiciária do país.

Durante o seu primeiro mandato em 1984, Kahane se tornou cada vez mais isolado no Knesset. Seus discursos racistas eram boicotados por membros do parlamento e diversas vezes deixaram o plenário completamente vazio, restando apenas o presidente e o funcionário da transcrição. As Propostas legislativas de Kahane e moções de não-confiança contra o governo foram reiteradamente ignoradas ou rejeitadas pelos seus pares. Kahane, chamava os demais políticos de “helenistas” (uma referência a partir de textos religiosos judaicos que descrevem antigos judeus que assimilaram a cultura grega após a ocupação da Judeia por Alexandre, o Grande). Apesar do boicote político, a popularidade de Kahane crescia.

Em resposta a este comportamento que envergonhava o parlamento israelense, e seguindo a recomendação do Supremo Tribunal, o Knesset aprovou uma emenda à Lei Eleitoral, que cassava a inscrição de partidos e políticos que a) negassem a existência de Israel como o Estado do povo judeu; b) que negassem o caráter democrático do Estado; c) que incitassem o racismo.

Como resultado, o partido de Kahane foi desqualificado pela Comissão Eleitoral Central de concorrer nas eleições de 1988. O partido recorreu da decisão, alegando que a discriminação contra os árabes se fazia necessária à segurança do país. O apelo não foi bem sucedido, com o tribunal negando o direito de Kahane ser candidato afirmando na sentença que os objetivos e ações de sua legenda eram “manifestamente racistas”.

Em 31 de maio, 2010 Zoabi participou da Flotilha de Gaza. Ela estava a bordo do navio MV Mavi Marmara, que tinha o objetivo de quebrar o “bloqueio a Gaza”. A violência eclodiu quando soldados israelenses entraram no navio com a intenção de redirecioná-lo para o porto de Ashdod. Em um discurso na Knesset, Zoabi descreveu o ataque como uma “operação militar pirata”.

Durante seu discurso, ela foi interrompida várias vezes pelos outros parlamentares, que furiosamente gritaram “Vá para Gaza, traidora!” Tentaram revogar a sua imunidade parlamentar e retirar a sua cidadania israelense. Tais tentativas foram bloqueadas pelo presidente da Knesset, Reuven Rivlin, que se recusou a apresentar estas moções a voto.

Finalmente, em dezembro de 2012 a Comissão Eleitoral Central desclassificou Zoabi, bem como o seu partido “Balad”, de participar das eleições que ocorrerão em janeiro de 2013 em Israel.

O pedido de sua desclassificação foi embasado justamente na emenda de lei que anos antes havia contribuído para riscar a participação de Kahane da vida pública no país.

Haneen Zoabi apelou à suprema Corte de Israel, que por unanimidade (nove votos a zero) deu ganho de causa à parlamentar árabe, cassando a decisão que havia desqualificado a sua participação nas eleições.

Não deixa de ser curioso: Enquanto Kahane desejava “convidar” os árabes a se retirar do país, Zoabi deseja construir uma única morada para ambos os povos.

Não acredito que nenhuma das abordagens destes dois políticos sejam a solução para o conflito e tenho certeza de que qualquer uma delas poriam fi m ao que conhecemos hoje como o Estado Judeu Democrático. Enquanto um pensamento destrói um dos pilares que sustentam a democracia, o segundo utilizaria o estado democrático para acabar com o caráter judeu do país.

De qualquer forma, não tenho como esconder o orgulho de viver em um lugar cuja Suprema Corte determina que a ideia da “separação” deva ser reprimida, enquanto que o desejo pela “unificação” deva ser preservado.

A verdade, é que eu não esperava nada menos de um tribunal, que em uma democracia, possui a função de separar o que é justo do injusto e de estabelecer o que é aceitável e o que é condenável.

Dizer “não”, a Meir Kahane, é comprovar que Israel jamais poderá se autodefinir como um Estado Judeu senão se comportar democraticamente.

Por outro lado, dizer “sim” a Haneen Zoabi, é comprovar que dentro de um Estado democrático, existe espaço e legitimidade para que se determine a sua característica judaica.


Meir Kahane e Haneen Zoabi, em suas diferenças e similaridades, conseguiram transformar Israel em tudo aquilo que eles não desejavam. Com as suas atuações políticas, a nossa democracia e o nosso caráter judaico estão muito mais fortes do que antes.